A primeira vez que ouvi falar sobre o escritor paraibano, Augusto dos Anjos, foi durante a aula de literatura, ministrada pelo professor bem-humorado, Paulo Monteiro, no Colégio Cândido Portinari. Lembro-me que apesar de não ter havido uma identificação imediata com os seus versos e prosas, nunca mais consegui apagá-lo da memória por ter escrito textos tão depressivos.
Aos 16 anos, me questionei como uma pessoa poderia ser tão "amarga" e triste. Aquele contexto parecia estar longe da minha rotina. Nessa época, confesso, vivia no meu mundo de Alice. Tudo era perfeito e suave. As pequenas diferenças passavam despercebidas e quando eram perceptíveis ao coração, conseguia dissipá-las com facilidade. Não tinha acesso ao mundo maniqueísta cruel. Apenas, aos dos contos históricos.
Mesmo assim, prestei muita atenção aos poemas de Augusto dos Anjos. Talvez, mera intuição. Hoje, sinto que temos muita afinidade. A melancolia dele parece com a minha. A forma de ver o mundo, idem. Claro, que com algumas singularidades. Ele não acreditava no amor. Eu acredito! Ele não acreditava na amizade. Acredito, mas com algumas ressalvas. Ele parecia morrer de tristeza. Também pareço muitas vezes. Mesmo quando por fora tudo parece perfeito. Máscara? Não. Uma forma para superar o que aqui dentro parece ser insuperável. Consciência de que nada é totalmente como pensamos e como queremos. Mas, a única certeza que tenho, além da morte, é que devemos sempre semear o nosso lado bom. Aqueles sentimentos ruins, ocasionados, em sua maioria, pelas nossas escolhas, devem ser marginalizados.
É duro. É difícil para um aquariana nata e que adora fazer justiça preferir "game over" do que ir até o fim com as suas convicções. Mas aprendi a recuar e a pesar as situações. Existem pessoas e pessoas. A boa parte delas não merece nem nosso tempo nem nossa inquietude. Elas, por si só, cavam a sua história. Por isso, peço a Deus diariamente sabedoria e força para não desviar meu foco nesta vida. "Senhor, fazei-me um instrumento de vossa paz". Apenas isso.
E tem mais: Deus tá vendo, né? risos... sempre ouvi isso quando criança e hoje procuro acreditar nisso também.
Segue a inspiração desse post - Augusto dos Anjos:
A DOR
Chama-se a Dor, e quando passa, enluta
E todo mundo que por ela passa
Há de beber a taça da cicuta
E há de beber até o fim da taça!
Há de beber, enxuto o olhar, enxuta
A face, e o travo há de sentir, e a ameaça
Amarga dessa desgraçada fruta
Que é a fruta amargosa da Desgraça!
E quando o mundo todo paralisa
E quando a multidão toda agoniza,
Ela, inda altiva, ela, inda o olhar sereno
De agonizante multidão rodeada,
Derrama em cada boca envenenada
Mais uma gota do fatal veneno!
Idealismo
Falas de amor, e eu ouço tudo e calo
O amor na Humanidade é uma mentira.
É. E é por isto que na minha lira
De amores fúteis poucas vezes falo.
O amor! Quando virei por fim a amá-lo?!
Quando, se o amor que a Humanidade inspira
É o amor do sibarita e da hetaíra,
De Messalina e de Sardanapalo?
Pois é mister que, para o amor sagrado,
O mundo fique imaterializado
— Alavanca desviada do seu fulcro —
E haja só amizade verdadeira
Duma caveira para outra caveira,
Do meu sepulcro para o teu sepulcro?!
Augusto dos Anjos
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