sábado, 17 de outubro de 2009

O sofrimento alheio e a compaixão

Acabei de chegar de uma viagem a Belo Horizonte. Fui apresentar trabalho num congresso de jornalismo científico. Gostei muito da experiência, dos colegas que conheci e de poder vivenciar de forma intensa esse meu processo no mestrado. O difícil foi ter ido sozinha. Desde andar de avião até ficar num quarto de hotel olhando para as paredes. O bom foi que pude escutar mais meu silêncio e cheguei a um monte de conclusão... Coisas de Gaby Lacerda... hahahaha
A viagem valeu a pena. Pude conversar com estudiosos na área que pretendo seguir, comprei livros, fiz amizade. O bom de ser aquariana e falar pelos cotovelos é isso. Acredita que quando estava saindo do quarto para comer sozinha em algum lugar por perto, na mesma hora uma outra garota do congresso saía do quarto do lado para almoçar? Coisas de Deus. Pronto. Ficamos amigas e pude ficar três dias em companhia pelo menos nos momentos de isolamento - café, almoço e jantar.
A parte mais tensa da viagem foi o avião, claro. O voo, em si, foi bem tranquilo. Sem turbulência ou qualquer anormalidade. Mas, para mim, aquilo foi uma grande tortura. Fiz questão de pegar um voo direto, sem escala, para chegar logo. Ficar dentro daquele tubo branco com pedacinhos de vidro e avistar aquela paisagem panorâmica me dão náuseas. Tomei um calmante antes de embarcar e levei três revistas femininas. Minha salvação! Quando o comandante disse que iríamos passar por uma área de turbulência, me apeguei a entrevista de Taís Araújo na Marie Clarie e ali fiquei. Deu certo. Nem vi a turbulência. rsrsrs... Além disso, dei uma de "bonita" e, apesar do medo, fiz como aqueles passageiros que parecem adorar viajar de avião. Você está ali, tremendo, e ele está andando no avião, lendo um livro e até dormindo... Deu certo... pensamento positivo! rsrs
E eu nunca tive muita sorte para fazer amizade em aeroporto. As pessoas estão sempre correndo e introspectivas. Mas, dessa vez, foi diferente. Descobri que nos aeroportos existem histórias que nos fazem refletir e repensar o nosso propósito aqui na Terra. No check in de volta a Salvador uma jovem de 26 anos começou a puxar conversa comigo. Vejam o diálogo:
ELA: - Oi, você tá indo para onde?
EU: - Salvador e você?
ELA: - João Pessoa, Paraíba.
EU: - Que legal. Semana que vem vou para Campina Grande, João Pessoa. Você é de lá?
ELA: - Não, sou daqui de MG. É porque eu acabei de ficar viúva e estou indo recomeçar a vida lá na casa de uma amiga...
EU: (segundo de silêncio)
EU: - Nossa... que triste. Foi acidente?
ELA: - Não, foi câncer no intestino. Casamos em abril deste ano e ele faleceu tem um mês, foi muito sofrimento...
E nesse diálogo ficamos 40 minutos, enquanto aguardávamos o atendimento. Conversei muito com ela. Que vida sofrida, meu Deus! Os dois iam se formar em direito no final deste ano, cheios de sonhos, queriam ter filhos... Ela vendeu tudo que eles tinham do casamento e foi para Paraíba recomeçar. Disse a ela que, sem dúvida, era uma dor grande e que iria demorar passar, mas que ela confiasse em Deus, porque Ele tem um propósito. Que não deixasse a tristeza tomar conta. E ela me disse que era evangélica e sabia que não era um castigo e que confiava no Senhor. Trocamos orkut e email. Espero que a vida dê novas alegrias para ela.
Ao sair do check in, desejei a ela boa viagem, força, fé e resignação. Sugeri que buscasse nos sites, blogs, fóruns e comunidades no orkut histórias de jovens garotas que ficaram viúvas cedo. Acredito que essa troca poderá ajudá-la a superar essa dor. Superar sim, acabar não. Histórias como esta marcam para sempre a vida de qualquer pessoa. Ela falava com amor nos olhos, com saudade. E tem dor pior do que a saudade de uma pessoa que nunca mais encontrará aqui na Terra? Nossa... fiquei anestesiada com isso. Além disso, ela estava morrendo de medo de andar de avião sozinha. A solidão é muito cruel. Nos despedimos e fui para um cantinho do aeroporto chorar. Chorei tanto e pedi tanto a Deus que a ajudasse e acalmasse seu coração que precisei de um bom tempo para me recompor. Aquela história me deixou em pedaços.
Moral da história: vamos viver os dias com a certeza que estamos de passagem. Vamos amar ao próximo, vamos deixar as pequenas coisas de lado, vamos ser tolerantes e compreensivos com o outro. Vamos fazer o bem, acima de tudo. Vamos nos dedicar a vida e aproveitar ao máximo. Vamos caminhar juntos, porque a separação é certa...
Que Deus abeçoe a todos nós e quem puder, faça uma oração para a Bruna e para o Guilherme.

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