domingo, 14 de junho de 2009

"Há certo gosto em pensar sozinho. É ato individual, como nascer e morrer" (Carlos Drummond de Andrade)

Adoro pensar em silêncio. Pensar em silêncio, para mim, é permitir, de forma egoísta e introspectiva, que o pensamento vá e volte por si só, sem interferência de outrem. Adoro pensar sozinha. Nesse ritmo solitário percorro por mim mesma e deixo as minhas vozes mentais se manifestarem sem qualquer censura. Esse momento intimista me faz perceber que o silêncio vale ouro. Mas só aprendi isso de poucos anos para cá. Na minha adolescência não conseguia muito me concentrar em momentos de solidão. Ligava o rádio, a TV ou ligava para uma amiga. A solidão, de fato, me incomodava. Hoje, a minha caverna piscológica é minha válvula de escape em muitos momentos. Acredito que o mais interessante nisso tudo é encontrar o equilíbrio entre a solidão e o compartilhar alheio.

Tem uma historinha que já postei em outros blogs que tive e que todas às vezes que leio vou direto para a Gaby adolescente e até mesmo a Gaby "universitária". Era muito falastrona. Chegava a ser o centro das atenções com piadinhas engraçadas e tiras bem-humoradas, mas, por dentro, muitas vezes, estava vazia. Hoje, continuo falando, mas se fosse mensurar seria bem menos do que antes. Aprendi a ouvir mais o outro e a mim mesma. Aprendi a respeitar e a reconhecer o silêncio como parte dialógica. E como bem disse Carlos Drummond de Andrade, "há certo gosto em pensar sozinho. É ato individual, como nascer e morrer". O que não podemos, jamais, é nos entregar apenas aos pensamentos sozinhos, esquecendo que só existimos porque o outro existe e que precisamos de referenciais também para nos reconhecer.


A Carroça Vazia

Certa manhã o meu pai, muito sábio, convidou-me a dar um passeio no bosque.
Deteve-se subitamente numa clareira e perguntou-me:
- Além dos pássaros, ouves mais alguma coisa?
Apurei os ouvidos e respondi:
Estou a ouvir o barulho de uma carroça.
- Isso mesmo, disse o meu pai, de uma carroça vazia.
Perguntei-lhe:
- Como sabe que está vazia, se ainda a não vimos?
- Ora, é fácil! Quanto mais vazia está a carroça, maior é o barulho que faz.
Cresci e hoje, já adulto, quando vejo uma pessoa a falar demais, aos gritos, tratando o próximo com absoluta falta de respeito, prepotente, interrompendo toda a gente, a querer demonstrar que só ele é dono da verdade, tenho a impressão de ouvir a voz do meu pai a dizer:
- Quanto mais vazia a carroça, maior é o barulho que faz!

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