sexta-feira, 21 de novembro de 2008

"É necessário matar muitos amores para que se chegue ao amor" (Rémy Gourmont)

Depois do post baixo-astral que escrevi há poucos minutos, resolvi escrever sobre um tema que, certamente, interessará grande parte dos leitores do meu blog. E gente, preciso confessar. Tenho um sistema de acessos aqui no blog que identifica não apenas a quantidade de leitores diariamente, mas também como eles chegam aqui ao Bendizer. Acredita que tem quatro leitores assíduos que sempre buscam na Internet a palavra Gaby Lacerda, Bendizer blogspot ou Bendizer Gaby Lacerda, no Google? Fico feliz em saber que algumas pessoas se interessam por minha vida ou se identificam com o que escrevo, afinal, esse blog é tão pessoal. O tema dele? Palavras de otimismo ou não e a minha visão de mundo. Pena não conseguir identificar essas pessoas e, para ser sincera, acho que se ainda não mandaram e-mail ou comentário é porque preferem o anonimato. Não tem problema. Fiquem à vontade! (risos) 

Mas o que quero falar hoje aqui no blog não é nada disso. Eu assisto A Favorita. Assisto desde o começo, quando achava que a Flora era a boazinha e a Donatella a vilã. Entre tantos núcleos interessantes, pego o gancho da relação entre Irene e Copola. Namoraram na juventude, mas se separaram por medo de tentar. O tema deles poderia ser a canção Último Grão, da Isabela Taviani. Um verso diz assim: "eu e você podia ser, mas o vento mudou a direção..." Admiro o lado racional da Irene, que reconhece que após 50 anos separados e já com a vida toda refeita não quer destruir um casamento de bodas de ouro com seu marido Gonçalo. Mas também admiro a paixão de Copola ao pensar que sempre há tempo para realizar sonhos antigos e um amor juvenil. 

Amores mal-resolvidos sempre existirão não apenas na telinha, mas também na vida real. Faz parte do cotidiano de qualquer cidadão, independente do local e cargo que ocupe, e também já inspirou muitos autores, como Arnaldo Jabor, que, muito sabiamente, escreveu um texto realista e contemporâneo com essa temática(leiam abaixo). Além dele, Martha Medeiros aproveitou um gancho de um amor platônico para escrever lindas palavras (leiam abaixo também), entre outros. Eça de Queiroz, por exemplo, acreditava que o amor mal-resolvido (aquele impossível porque está completamente recheado de orgulho, medo e desesperança) é o amor pleno. "O amor eterno é o amor impossível. Os amores possíveis começam a morrer no dia que se concretizam" (Eça de Queiroz). Profundo, né? Mas não sei se concordo com isso. Renderia outro post. 

O que posso generalizar com muita ousadia é que todos nós - ou a grande maioria que já se apaixonou nessa vida - já vivemos um amor que ficou no "quase"; um amor que ficou num desesperador "se" e num esperançoso "quando". Se você nesse momento estiver passando por isso, cautela. O coração é muito traiçoeiro, afinal, vivemos de escolhas e são elas que alimentam as nossas lembranças. 

Para finalizar, seguem os dois textos lindos sobre amores não cicatrizados. Espero que gostem. 

AMORES MAL-RESOLVIDOS
(Arnaldo Jabor)

Olhe para um lugar onde tenha muita gente: uma praia num domingo de 40º umaestação de metrô a rua principal do centro da cidade.Metade deste povaréu sofre de Dor de Cotovelo. Alguns trazem dores recentesoutros trazem uma dor de estimação mas o certo é que grande parte dessesrostos anônimos tem um Amor Mal resolvido uma paixão que não se evaporoucompletamente mesmo que já estejam em outra relação.Por que isso acontece?Tenho uma teoria ainda que eu seja tudo menos teórico no assunto. Achoque as pessoas não gastam seu amor. Isso mesmo. Os amores que ficam nosassombrando não foram amores consumidos até o fim. Você sabe o amor acaba.É mentira dizer que Não. Uns acabam cedo outros levam 10 ou 20 anos paraterminar talvez até mais. Mas um dia acaba e se transforma em outra coisa:lembrança amizade parceria parentesco e essa transição não é dolorida seo amor for devorado até o fim. Dor de cotovelo é quando o amor éinterrompido antes que se esgote. O amor tem que ser vivenciado.
Platonismo funciona em novela mas na vida real demanda muita energia semfalar do tempo que ninguém tem para esperar. E tem que ser vivido em suatotalidade. É preciso passar por todas etapas:atração-paixão-amor-convivência-amizade-tédio-fim. Como já foi dito estetrajeto do amor pode ser percorrido em algumas semanas ou durar muitos anosmas é importante que transcorra de ponta a ponta senão sobra lugar parafantasias idealizações enfim tudo aquilo que nos empaca a vida e nosimpede de estarmos abertos para novos amores.Se o amor foi interrompido sem ter atingido o fundo do pote ficamosimaginando as múltiplas possibilidades de continuidade tudo o que a gentepoderia ter dito e não disse feito e não fez. Gaste seu amor. Usufrua-o atéo fim. Enfrente os bons e maus momentos passe por tudo que tiver quepassar não se economize. Sinta todos os sabores que o amor tem desde oadocicado do início até o amargo do fim mas não saia da história na metade.Amores precisam dar a volta ao redor de si mesmo fechando o próprio ciclo.Isso é que libera a gente para ser feliz novamente.

Pedaço de Mim

(Martha Medeiros)

Eu sou feito de
Sonhos interrompidos
detalhes despercebidos
amores mal resolvidos

Sou feito de
Choros sem ter razão
pessoas no coração
atos por impulsão

Sinto falta de
Lugares que não conheci
experiências que não vivi
momentos que já esqueci

Eu sou
Amor e carinho constante
distraída até o bastante
não paro por instante


Tive noites mal dormidas
perdi pessoas muito queridas
cumpri coisas não-prometidas

Muitas vezes eu
Desisti sem mesmo tentar
pensei em fugir,para não enfrentar
sorri para não chorar

Eu sinto pelas
Coisas que não mudei
amizades que não cultivei
aqueles que eu julguei
coisas que eu falei

Tenho saudade
De pessoas que fui conhecendo
lembranças que fui esquecendo
amigos que acabei perdendo
Mas continuo vivendo e aprendendo
.

Um comentário:

Rafaela Manzo disse...

Amiga, é uma delícia passar pelo seu blog todos os dias e ler uma coisa nova. Sinto você tão perto... seu jeito de escrever e falar se parecem muito: você é escancarada como eu. Isso nos mete em encrenca (os comentários anônimos dos invejosos que os digam) mas cria e mantém laços de amizade VERDADEIRA!

Pensei que só eu tivesse visto o ABSURDO do Marcelo com a nova namorada na Sônia!! rsrs

Sobre amores mal resolvidos nem comento. Escreveria um livro sobre eles. Quero um agora que se resolva. rs

Beijo, amiga! Te amo!