Toda essa introdução é para chegar ao tal programa Ó Paí, Ó. Como se não bastasse aquele filme tosco, sem pé nem cabeça e que até hoje espero um final, eis que a Monique Gardenberg e sua trupe resolveram levar para a telinha o que, segundo eles, representa de forma real a Bahia. Calma lá! Com o apoio do Bando de Teatro Olodum e redação final de Monique Gardenberg e Jorge Furtado (roteirista de Os Normais), a atração pode até contar os costumes de quem mora no Pelourinho, mas intitular o programa como uma transposição da vida dos baianos para a TV é reforçar uma ideologia dominante preconceituosa que acha que aqui no Estado só tem gente preguiçosa, "pongueira", esperta e que curte balada de segunda a segunda.
A história, muito pobrezinha, por sinal, atinge extremos irritantes e dignos de pena. Todo mundo no Pelourinho vive de dinheiro emprestado, gosta de sabotar o outro, finge ser amigo, finacia prostituição, tem fé duvidosa e age de má fé. Meeeeeu Deus! Ó Paí, Ó quanta deturpação! Por essas e outras que quando viajo para São Paulo as pessoas sempre me perguntam mais de uma vez se sou baiana mesmo. Por que? O que diverge do "pré-conceito" estabelecido pela sociedade? Por que tenho pele branca? Sei me expressar? Trabalho mais de 12 horas por dia?
Além de viver isso literalmente "na pele", sou obrigada a ver na TV um encontro de elitistas preconceituosos que vêm para cá para passear e curtir as férias, reúnem informações isoladas como representação de um povo e ainda ganham dinheiro com isso. Aí muita gente diz que quem escreveu esse texto foram os próprios baianos do Bando de Teatro Olodum. Eles podem ter se inspirado na rotina do Pelô, sim, com uma linguagem para o teatro, mas o discurso, o não-dito e já-dito foram descritos por quem desconhece a real cultura baiana. E mais: dissemina tal equívoco no meio de comunicação de maior alcance e legitimidade: a televisão.
Olhe para isso, olhe! Fica aqui minha indignação redrobada: Baiano - Zorra Total e Ó Paí, Ó.
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